A televisão. Ah, a velha e boa televisão. Tem gente que crava a sentença de morte dela todo ano, com um otimismo beirando a ingenuidade. Dizem que a internet matou, que o streaming enterrou, que a garotada nem sabe mais o que é assistir a um programa em horário fixo. Pois bem, depois de mais de uma década e meia pisando nesse chão enlameado da cobertura midiática, posso afirmar com certa segurança: a televisão, meu caro, ainda respira. E, pasme, tem fôlego para mais umas voltas.
Não se engane, o jogo mudou. E mudou muito. Aquele aparelho gigante no meio da sala, que reunia a família inteira para ver o Jornal Nacional ou a novela das oito, virou quase uma peça de museu para uma geração. Mas a TV, enquanto conceito de consumo de conteúdo audiovisual, não só sobreviveu como se reinventou. E essa reinvenção é o que interessa. É sobre isso que a gente precisa colocar na ponta do lápis.
O Grito de Morte da TV: Uma Notícia Exagerada?
Quantas vezes já ouvimos que a televisão estava com os dias contados? Que a audiência desabava, que os anunciantes fugiam, que era um barco afundando em um mar de novas tecnologias. É verdade que o cenário se transformou radicalmente com a ascensão do digital. O controle remoto foi trocado pela tela do celular, o “zapping” pela busca infinita de títulos em plataformas. Mas essa é uma visão simplista demais do que realmente aconteceu.
A televisão tradicional, a linear, aquela que te entrega o conteúdo no horário dela, sim, perdeu terreno. Principalmente entre os mais jovens. Mas dizer que ela morreu é ignorar o fato de que ela se ramificou. Deixou de ser um monólito para virar um ecossistema. Hoje, a TV não é só a Globo ou a Record na sua sala. É a Netflix no seu tablet, o YouTube na sua smart TV, o TikTok no seu bolso. A tela é outra, o aparelho é outro, mas o consumo de vídeo segue forte. A questão é: para quem e como?
A Reinvenção da Tela Grande: Streaming e Além
O que chamamos de “televisão” hoje é um híbrido. Temos a velha e boa TV aberta, que ainda tem um alcance absurdo, especialmente no Brasil profundo. Temos a TV por assinatura, que se segura com pacotes e conteúdo exclusivo. E, claro, temos o meteoro do streaming, que pulverizou a audiência, mas também criou novos hábitos de consumo. A verdade é que o público não abandonou o vídeo; ele só escolheu onde e quando assistir. É a liberdade de ter o controle, algo que a TV linear jamais ofereceu.
“Olha, é… é complicado. A gente trabalhava com aquelas cotas de patrocínio fixas, né? Agora, tem que entender o algoritmo, ver onde o público tá migrando. É um desafio diário”, confessa um executivo de uma agência de publicidade, que preferiu não ter o nome revelado, em um café na Faria Lima. A fala dele resume bem o buraco em que as emissoras se meteram e como estão tentando sair.
A briga agora é pela atenção. E nessa briga, a televisão se beneficia de alguns pilares inabaláveis:
- Eventos ao Vivo: Nada supera a experiência de assistir a um jogo de futebol decisivo, um show, ou a cobertura de uma eleição em tempo real, com a emoção do ao vivo e a repercussão imediata nas redes sociais.
- Jornalismo: Em tempos de fake news e desinformação, a credibilidade de um telejornal consolidado ainda é um porto seguro para muita gente.
- Conteúdo Local e Nacional: Novelas, programas de auditório e séries com temas e personagens que ressoam com a cultura brasileira continuam a ser um chamariz poderoso, algo que as plataformas globais ainda penam para replicar com a mesma profundidade.
Quem Assistia o Quê: Uma Audiência Fragmentada
Se antes a audiência era uma massa homogênea, hoje ela é um mosaico. Jovens, adultos, idosos, cada um com seus hábitos e preferências. As emissoras, que antes se davam ao luxo de falar para todos, agora precisam segmentar, entender nichos. E o público, por sua vez, navega entre as opções com uma facilidade impressionante.
Tipo de Conteúdo | Público Alvo (Exemplo) | Plataformas Predominantes |
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Novelas e Programas de Auditório | Adultos e idosos, público familiar | TV Aberta, streaming (GloboPlay, Record TV no YouTube) |
Notícias e Análise Política | Adultos, interessados em informação | TV Aberta, TV por Assinatura (canais de notícias), YouTube |
Esportes ao Vivo | Jovens e adultos, fãs de esportes | TV Aberta, TV por Assinatura (canais esportivos), streaming (Star+, Dazn) |
Séries e Filmes Internacionais | Jovens e adultos, busca por variedade | Plataformas de streaming (Netflix, Prime Video, Max) |
A verdade nua e crua é que a televisão não compete mais apenas com outras emissoras. Ela compete com o smartphone, com o videogame, com o livro, com a conversa de bar. Ela virou uma das muitas opções de entretenimento e informação. E para se manter relevante, precisa entregar um valor que os outros não entregam ou entregar do jeito que a audiência quer. É uma guerra, sim, mas ninguém está deitando em berço esplêndido.
O Futuro Não Espera: Adaptar ou Sumir?
O futuro da televisão, se é que podemos chamar assim, passa pela convergência. O limite entre o que é “TV” e o que é “internet” está cada vez mais borrado. As emissoras estão investindo em plataformas de streaming próprias, em conteúdo exclusivo para o digital, em interatividade. Estão aprendendo a falar a língua da nova geração, mas sem abandonar a velha guarda que ainda lhes garante audiência e faturamento. É um equilíbrio delicado, como andar na corda bamba sem rede de proteção.
“Dona Maria, que não larga a novela das nove, me disse outro dia: ‘Ah, meu filho, pra mim a televisão… é companhia, né? Esse negócio de internet é bom, mas a novela é a novela!’. É um sentimento que ecoa em muitos lares brasileiros, e é esse apego que segura uma parte da audiência. No fim das contas, a televisão é mais do que um aparelho ou um sinal; é um hábito, uma rotina, uma parte da nossa cultura. E hábitos, como sabemos, são duros de matar.
A televisão de hoje, com suas múltiplas facetas, pode não ser a mesma dos tempos de glória, mas está longe de ser um cadáver insepulto. Ela se transformou, se adaptou e continua a ser um player relevante no complexo cenário da mídia. Para quem esperava um epitáfio, o que se vê é um roteiro em constante reescrita.
Este artigo foi elaborado por um jornalista com experiência consolidada de mais de quinze anos na cobertura do setor de comunicação e mídia, buscando trazer uma análise aprofundada e factual sobre as transformações da televisão no Brasil e no mundo.
FAQ – Perguntas e Respostas sobre a Televisão no Século XXI
A televisão está morrendo com o avanço do streaming?
Não, a televisão não está morrendo, mas está se transformando. O que vemos é uma adaptação e uma reinvenção. Embora o modelo tradicional de TV linear (com programação fixa) tenha perdido parte de sua audiência, o consumo de conteúdo audiovisual como um todo continua forte. A TV agora coexiste e se integra com plataformas de streaming, YouTube e outras mídias digitais, oferecendo diversas formas de acesso ao vídeo.
Qual a diferença entre TV aberta, TV por assinatura e streaming?
A TV aberta é gratuita e acessível a todos com um aparelho de TV e antena. A TV por assinatura exige um contrato com uma operadora e oferece uma variedade maior de canais temáticos (notícias, esportes, filmes). O streaming (Netflix, Prime Video, GloboPlay, etc.) oferece conteúdo sob demanda via internet, geralmente por meio de uma assinatura mensal, permitindo que o usuário assista quando e onde quiser.
Por que a TV aberta ainda é importante no Brasil?
A TV aberta ainda possui um alcance massivo no Brasil, especialmente em regiões onde a conectividade à internet é limitada ou cara. Ela continua sendo uma fonte principal de informação (telejornais), entretenimento (novelas, programas de auditório) e eventos ao vivo (futebol, carnavais), mantendo uma forte conexão cultural com grande parte da população.
Como a publicidade se adaptou às mudanças na televisão?
A publicidade na televisão se tornou mais complexa. Além dos tradicionais intervalos comerciais na TV linear, os anunciantes agora investem em formatos digitais, parcerias com influenciadores em plataformas de vídeo, publicidade em serviços de streaming e conteúdo patrocinado. A estratégia é atingir o consumidor onde ele estiver, seja na TV convencional ou nas múltiplas telas digitais.
Fonte: G1